quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

As mesmas guerras

Já que o assunto tem circulado em torno das decisões políticas internacionais – mas que eventualmente afetam nossas pobres vidinhas aqui no hemisfério sul – a notícia desta semana acabou vindo, outra vez, de Barack Obama. Há poucos dias o presidente dos Estados Unidos anunciou sua nova estratégia com relação ao Afeganistão, que inclui o envio de aproximadamente 30 mil tropas adicionais ao país.
Os motivos são as reservas de petróleo do Oriente Médio. Prova apenas de que os norte-americanos não são capazes de permanecer mais do que alguns anos sem arrumar briga com os povos árabes. Ainda no início desta década, George W. Bush (o filho) realizou uma verdadeira cruzada para derrubar Saddam Hussein do poder no Iraque e procurar pelas famosas armas de destruição em massa – que, aliás, nunca foram encontradas. Mas o conflito é bem mais antigo.
Há vinte anos atrás, no governo de outro Bush (o pai), milhares de jovens, entre eles os “marines” (fuzileiros navais), foram enviados à Arábia Saudita e arredores do Iraque para a chamada Operação Tempestade no Deserto. O objetivo oficial era defender o Kuwait invadido por Saddam. O único interesse daquela que ficou conhecida como a Guerra do Golfo, naturalmente, era proteger os preciosos campos de petróleo.
A guerra, que teve início em 1990, é o tema de um filme que retrata o ponto de vista de um desses “marines”. Soldado Anônimo / Jarhead, dirigido pelo britânico Sam Mendes e lançado em 2005, é uma produção da Universal Pictures inspirada na história real do soldado Anthony Swofford (interpretado por Jake Gyllenhaal).
Swoff é um dos chamados “jarheads” (cabeças de vaso). Ele chega ao deserto com ordens de se manter alerta e preparado para um possível ataque ao inimigo. Só que, na prática, sua rotina se resume a andar na areia, beber água e atirar em alvos imaginários. Os meses vão passando, mais tropas são enviadas à região, e a posição defensiva dos “marines” começa a se tornar enlouquecedora. A disciplina se transforma em tédio, o tempo livre em vadiagem e a falta do que fazer em frustração.
Os ideais de se tornarem heróis, causas de orgulho a seu país, espalham-se ao vento como a areia que invade até os sonhos dos soldados. Ideais esses que nunca foram muito profundos mesmo, por isso a facilidade em abandoná-los. A geração da Guerra do Golfo tem como herança o fiasco da Guerra do Vietnã. Os jovens de hoje em dia continuam morrendo por guerras nas quais nem sequer acreditam, simplesmente para satisfazer aos interesses de quem está no poder. “Quem você acha que deu a Saddam suas malditas armas?”, um deles pergunta. Foram os próprios norte-americanos, que ainda não se deram conta de que o legado dos “jarheads“, os cabeças vazias, continuará reinando enquanto esse tipo de questionamento for ignorado.
De quem é o tempo desperdiçado nas guerras? Não é dos políticos, mas dos soldados, que esperam para usar seus brinquedinhos (os rifles) como se estivessem dentro de um videogame. Mas quem vence as batalhas? Definitivamente, não são os soldados. Quando se trata do que realmente importa, eles são meros efeitos colaterais.
Vivemos em um mundo que desiste muito facilmente, que aceita sem discutir. Um mundo de fantoches descartáveis, que se autodestroem por motivo nenhum. As conquistas da humanidade já não fazem diferença, porque não são nossas. Então lutamos sem paixão, de mentirinha, porque não aprendemos. Não acreditamos mais em grandes causas. Mas será que sempre foi assim? Em Soldado Anônimo, Swoff decreta: “Toda guerra é diferente, toda guerra é a mesma”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário