quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Os infernos que criamos

Paraíso agora. Além de uma utopia que está muito longe da realidade mundial, especialmente no Oriente Médio, essa é a tradução do título do filme Paradise Now, que retrata o conflito entre israelenses e palestinos do ponto de vista daqueles que normalmente não tem muita voz no mundo ocidental.
A desconsideração do Ocidente aos apelos palestinos teve mais uma prova na última segunda-feira, quando a União Europeia rejeitou a proposta para a criação de um Estado palestino independente de Israel junto ao Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas). O ministro das Relações Exteriores da Suécia justificou que ainda não há condições para o reconhecimento desse Estado. Os líderes europeus alegam que as duas partes precisam voltar a negociar.
Enquanto isso, israelenses e palestinos continuam se matando por terras que ambos os povos consideram suas por direito. Em 1948, palestinos ocupavam os territórios que foram anexados ao Estado de Israel, criado pela ONU. Desde então, eles tem negado a legitimidade dessa resolução e lutado violentamente – com o apoio dos países árabes que cercam Israel – pelo estabelecimento do Estado da Palestina.
Paradise Now conta a história de dois amigos, Said e Khaled, recrutados por um grupo extremista para realizar um ataque terrorista em Tel-Aviv. Produzido em 2005 pela Augustus Films e dirigido por Hany Abu-Assad, o filme causou polêmica ao ser indicado para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. A trama se concentra na relação entre os homens-bomba palestinos, suas crenças e a maneira como elas afetam suas vidas, sem julgamentos pessoais e sim analisando o contexto social que culmina em atos desesperados. Quando, no dia de cumprir sua missão, os dois amigos se separam na fronteira dos territórios, Said desaparece. Embora mantenha o propósito de levar o ataque adiante, guiado por sua fé no destino e no paraíso, ele não consegue evitar os questionamentos sobre o que está prestes a fazer.
Com um roteiro honesto, que não recorre a saídas fáceis ou ilusórias, o filme lida de forma sensível com uma das questões mais complexas da atualidade. Humaniza os “vilões da história”, mas sem transformá-los em “coitadinhos”. Sabemos que o suicídio não é sacrifício, é vingança. Quando as vítimas se tornam assassinas, não há diferença entre elas e seus opressores. Mas num mundo em que a vida não oferece muitas opções e o paraíso é a única esperança de melhora, em que a guerra é o único caminho para a liberdade, é compreensível a escolha desses homens: “se não podemos viver como iguais, ao menos morreremos como iguais.”
Paradise Now faz pensar, faz sentir. Para aqueles se que sentem incomodados pelo ponto de vista abordado, seria interessante observar que a consciência e a discussão desses fatos pode ser um começo de solução. Não é mais possível camuflar a realidade. Os terroristas, antes de serem convencidos a agirem como tais, possuíam empregos, famílias e amigos, como qualquer pessoa. Em sua concepção, a luta armada busca o fim da injustiça e da covardia, porque chega um momento em que simplesmente não vale a pena viver sem dignidade. É perturbador vê-los como seres humanos e entender suas razões. Mas é também uma perspectiva que merece ser vista.

2 comentários:

  1. Ka, i love the way you write about politics like a rational person but still in a way full of emotion. You talk about the truth being sensitive, which is not only hard, but rare... keep on the great work... we can change the world (yes we can ;P) Kisses kisses, Karinha

    ResponderExcluir
  2. Olá, senhorita... Gostei do blog. Adoraria um post sobre o Anticristo. Beijão

    ResponderExcluir