quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Adeus, muros?

Nesta semana, a Alemanha e o mundo comemoraram o aniversário de vinte anos de uma queda. Em novembro de 1989 foi derrubado o Muro de Berlim (que separava a Alemanha em dois lados: o Ocidental – capitalista, e o Oriental – socialista). A divisão do país ocorreu logo após a 2a Guerra Mundial, simbolizando a rivalidade entre EUA e URSS, que se estendeu durante todo o período da Guerra Fria.
Muito se tem falado sobre esses fatos históricos, pouco se tem acrescentado ou verdadeiramente refletido a respeito. Nesse sentido, Adeus, Lênin! / Good Bye Lenin!, da produtora alemã X-Filme Creative Pool, talvez seja uma das exceções. Lançado em 2003 e dirigido por Wolfgang Becker, o filme retrata os acontecimentos sob a perspectiva das relações familiares dentro de uma sociedade em transformação. No entanto, não se limita a isso, oferecendo também um consolo àqueles que – onde quer que estejam – ainda acreditam em regimes políticos mais justos.
Adeus, Lênin! conta a história de Alex (Daniel Brühl), um alemão do lado socialista que sonha em ser astronauta e deseja a unificação do país. As coisas mudam quando sua mãe (Katrin Sass) tem um enfarte e entra em coma. Alex passa a se dedicar a ela, na esperança de uma recuperação, enquanto a realidade a seu redor também sofre grandes mudanças. O muro cai e a Alemanha volta a ser uma nação única, sob o signo do capitalismo e da Coca-cola que invade as ruas.
Um belo dia, a mãe de Alex acorda do coma. Informado que ela ainda está muito debilitada e deve evitar emoções fortes, o rapaz se vê em um dilema: como contar para a mãe, fiel partidária dos ideais socialistas, que seu amado país se vendeu e cedeu ao poder do Ocidente? Alex decide simplesmente não falar a verdade. Para tanto, ele é obrigado a montar um esquema de ação que vai se tornando cada vez mais difícil de sustentar. Sua irmã, sua namorada, seus vizinhos, seu apartamento, até mesmo os programas na TV, tudo é preparado para que a mãe de Alex acredite que ainda vive em uma república socialista.
A mentira que o filho se esforça tanto para manter é, na opinião dele, uma forma de proteger a mãe. Mas até que ponto pode ser justificável enganar alguém, mesmo que por amor, mesmo que para o bem dela, se essa pessoa perde o direito de ver a realidade com seus próprios olhos? A namorada de Alex chega a perguntar: “Que diferença faz, uma vez que se começa a mentir?”
A Alemanha criada para a mãe de Alex era o país em que ela acreditava e com o qual havia sonhado. Só que não era o país que estava acontecendo lá fora. Alimentando sua farsa, quase sem perceber Alex construiu mais um muro, imaginário mas tão nocivo quanto o muro concreto: uma barreira entre sua mãe e a verdade. Ele acaba descobrindo que as mentiras são filhas dos medos e geram sofrimentos que poderiam ser evitados. São elas que criam as divisões.
O socialismo das ideologias não visava o isolamento. Então por que tantos muros? Mesmo que alguns já tenham caído ao chão, outros novos continuam sendo erguidos. Muros cada vez mais altos. Se vivemos em um mundo supostamente globalizado, as segregações não deveriam existir. Mas existem. E existirão até que o primeiro de nós, cansado de não ser livre em um mundo que pertence a todos, ultrapasse a fronteira da intolerância e comece a quebrar as pedras, uma a uma.

Um comentário:

  1. Ka, simply great... you are the best with the words and you understand the movies in a deep level. It is great to read about Goodbye Lenin in your perspective. I'm very proud of you as a writer and a journalist. Keep on with your thoughts, thet can take you a lot of steps ahead of the ordinary thinking. Love ya... Kisses kisses, Karinha

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