sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Entrevista com Breno Silveira

por Katia Kreutz*

“A luta dele era a luta de todo brasileiro”. A frase do cineasta Breno Silveira explica um dos motivos que o aproximaram de Francisco José de Camargo – pai da dupla sertaneja Zezé Di Camargo e Luciano – e o levaram a dirigir o filme 2 filhos de Francisco, que se tornou um dos maiores sucessos de bilheteria do cinema brasileiro.
Lançado em 2005 e produzido pela Conspiração Filmes, 2 filhos de Francisco conta a história de um sonho. Francisco é um lavrador de vida humilde, do interior de Goiás. Vendo na música a esperança de um futuro melhor, ele presenteia o mais velho de seus nove filhos, Mirosmar, com um acordeão. Ao lado do irmão Emival, Mirosmar começa a se apresentar em festas na região. Quando a família perde sua propriedade e se muda para Goiânia, os dois irmãos passam a tocar na rodoviária, onde conhecem Miranda, que se torna seu empresário. Com Miranda, Mirosmar e Emival viajam pelo interior do país, cantando, até que uma tragédia interrompe a carreira da dupla. Muitos anos depois, Mirosmar decide voltar a cantar e adota o nome artístico de Zezé Di Camargo. Sem conseguir sustentar sua família por meio da música, ele acaba encontrando no irmão Welson – que ficaria conhecido como Luciano – a possibilidade de alcançar o sucesso sonhado por seu pai.
Transformar em filme a vida de Francisco e de seus filhos não foi fácil, e as dificuldades refletem a luta dos próprios personagens. “Na verdade a idéia não foi minha. Foi do Zezé, que ligou pra Conspiração dizendo que a história dele dava um filme. Num primeiro momento ninguém quis pegar”, conta Breno Silveira, que na época tinha planos de trabalhar em outro roteiro, de sua autoria. Mas apesar de ter se considerado a pessoa errada para o papel, por ser do Rio de Janeiro e não pertencer ao universo da música sertaneja, Breno ficou impressionado com a força da história. E essa impressão foi ainda mais profunda quando ele se encontrou pessoalmente com “Seu Francisco”, em Goiás. Foi depois desse encontro que decidiu fazer o filme.
Para Breno, a identificação com o pai da dupla aconteceu porque Francisco acreditou no sonho de que as coisas poderiam melhorar. “Ele é brasileiro”, diz o cineasta, “é uma pessoa que não desiste nunca”. Apesar dos episódios extremamente traumáticos pelos quais a família passou, e mesmo a demora para conseguir realizar o sonho que começou já na infância dos meninos, “deu certo trinta anos depois, e isso é realmente muito emocionante”.
Embora 2 filhos de Francisco tenha sido um filme bem sucedido, a resposta positiva do público foi um pouco tardia e muito distante das expectativas do diretor. “Se eu fiquei surpreso? Muito. 2 filhos não abriu bem. Acho que foi a pior bilheteria dos grandes sucessos da retomada”. Breno lembra que vários cinemas do Rio de Janeiro estavam vazios no fim de semana da estréia, e ele chegou a pensar que o filme tinha “flopado”. Aos poucos, pelo boca a boca, o longa metragem começou a lotar as salas de exibição. “Foi uma coisa surpreendente, eu não esperava que tivesse tanta comunicação com as massas”.
Um dos aspectos que facilitou a aproximação do público com a história e ganhou elogios da crítica foi o trabalho dos atores, entre eles Ângelo Antonio (Francisco), Dira Paes (Helena), Márcio Kieling (Mirosmar/Zezé Di Camargo), Thiago Mendonça (Welson/Luciano), Paloma Duarte (Zilu) e Dablio Moreira (Mirosmar jovem). “A minha paixão hoje eu posso dizer que é dirigir atores”, afirma o diretor. “Eu gostava de ficar ali na câmera observando aquelas pessoas transformarem o que estava no papel numa cena. Minha relação com o ator era mais de curiosidade, de encantamento”. Trabalhando com direção, Breno descobriu uma ligação com o trabalho dos atores, uma vocação para as artes dramáticas que complementou sua já existente visão técnica.
A carreira de Breno Silveira se iniciou na fotografia. Ele estudava Biologia quando ganhou uma máquina fotográfica de seu pai. O gosto por fotografar seguiu como carreira paralela até que Breno ganhou um prêmio, uma bolsa para estudar cinema em Paris. Quando voltou ao Brasil, foi chamado pela diretora Carla Camurati para trabalhar no filme Carlota Joaquina – Princesa do Brasil. A partir desse trabalho, atuou como diretor de fotografia em outros longas, como Eu Tu Eles, Gêmeas, Bufo & Spallanzani e O Homem do Ano. “Já tive uma passagem por todas as áreas. Já fui assistente de direção, assistente de câmera, diretor de fotografia, diversas funções no set. Então eu tenho essa tendência de participar um pouco em tudo”. De acordo com Breno, dirigir um filme é montar uma equipe, juntar pessoas boas e conseguir tirar o melhor delas.
O segundo longa-metragem dirigido pelo cineasta, Era uma vez..., também foi produzido pela Conspiração Filmes, empresa da qual ele é sócio. Trata-se do conturbado romance entre um vendedor de cachorro-quente que mora na favela e uma menina rica de Ipanema. O roteiro foi escrito há bastante tempo, antes do que Breno chama de “a nova geração de filmes de favela”. Como o assunto já tinha se tornado batido quando o filme foi produzido, o diretor optou por abordá-lo de outra forma, sob a ótica de uma história de amor.
Atualmente, Breno está trabalhando em vários projetos, entre eles a pré-produção de seu próximo longa-metragem. Além disso, ele trabalha e vive como diretor de publicidade.


* Katia Kreutz é paranaense, formada em direção cinematográfica pela Academia Internacional de Cinema. Atualmente, estuda jornalismo em São Paulo.

Um comentário:

  1. Really nice interview! you really know how to get the information you want and make it something delightful to read! love ya tons! Kisses kisses, Karinha

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